21 maio 2009

Quanto tempo até o final da festa?


A questão é: a gente acha que vai viver pra sempre, principalmente quando se é jovem. Os vinte e poucos anos parecem inflamar o ego. O sujeito enche a boca para falar a idade e a frase sai com a entonação de quem pode tudo. A força, a disposição, o destemor característicos do jovem fascinam o espectador.


Talvez essa coragem toda seja pelo tempo, que se pensa ter de sobra. É fácil olhar para a história e ver jovens que se destacaram por esses atributos. Foi a juventude que conseguiu o impechement de um presidente corrupto. Foi na flor da idade que alguns rapazes levaram uma ilha à revolução. Foi uma galera vanguardista que marcou os livros escolares ao optar pela paz e amor ao invés da violência.


Sonhar e planejar são os combustíveis para este vigor. Por isso é que existem jovens de 60 anos. Eles conseguem manter o espírito da perspectiva. O desejo de fazer e acontecer. A expectativa pela novidade, pelas surpresas da vida. Porém, há quem diga que a juventude de hoje canaliza suas energias para o banal. Que é preguiçosa e não liga para as causas importantes, que é facilmente manipulada pelos interesses comerciais dos “poderosos”.


Será essa uma geração perdida, mergulhada na trivialidade? O que se vê, em geral, é um desinteresse pela humanidade, pela injustiça social que está em todo lugar. O que se vê é um constante e desenfreado uso de drogas – lícitas ou não- incentivado pela indústria da música, do cinema e introjetado por mentes inertes, passivas. O que se vê é uma abundância de cabeças confusas, aflitas e desanimadas com o futuro. Nada mais que uma grande perda de tempo.








Pois é, o tempo é uma grande questão quando se trata da juventude. Não há problema em desperdiçar um pouquinho quando se tem tantos anos pela frente. Mas, até quando? Ninguém espera perder um ente querido, principalmente quando este é jovem. Não há justificativa que console isso. O arquiteto Oscar Niemayer quando perguntado, no alto de seus 100 anos, sobre o que é vida disse: “Você nasce, conta uma história e depois vai embora”. Portanto, pensemos nisso. Não é o biógrafo que escreve o enredo, não é após a partida que a história é publicada. Tudo acontece nesse amontoado de pequenos instantes que passam por nós. Não é a toa que a própria Bíblia destaca o papel dos moços. O apóstolo João, em sua primeira carta, ressaltou: “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já venceste o maligno”. Doravante, escrevamos melhor o próximo ato.

Vanessa Sezini

01 maio 2009

A sustentável ausência da distração eletrônica


Outro dia ouvi uma colega dizer que não imagina a vida sem a internet, pois tudo o que faz, seja trabalho ou lazer, é através da rede. Mais recente, a mãe de uma amiga disse que acompanha todas as novelas da Globo e que quando estas acabam muda o canal para “pegar as da Record”. Achei tudo isso um exagero. Mas, tão logo passei por um - ainda desconhecido- tormento.

Há pouco tempo mudei de casa e, além de perder a internet, minha televisão ficou sem sinal. Quase fiquei doente. Vagava pelos cômodos da casa a procura de distração, estava profundamente abatida. O tédio era aflitivo.
Então, sem minhas ocupações virtuais me lembrei de um velho hábito sufocado pelo corre-corre de todo dia e pela comodidade de assistir tudo resumido na televisão. Me lembrei de outro universo irreal, porém mais fascinante que o orkut. Imergi na literatura.

Entre clássicos e best-sellers adolescentes revivi emoções e sensações adormecidas na insustentável leveza da alma. Visitei Londres, Praga, Alemanha, Rio Grande do Sul e a amena Itabira.
Durante dias observei um homem se metamorfoseando em um inseto gigante. Ouvi confidências de um itabirano apaixonado. Vi um bruxo enterrar um elfo no jardim de uma grande Toca. Por várias vezes desci ao porão de uma casa humilde para, junto com uma alemanzinha, ler para um judeu histórias de livros roubados. Me apaixonei por um vampiro indizivelmente belo e, no tempo fugaz entre um epílogo e outro, também amei um majestoso lobo febril. Mas, agora estou empenhada em descobrir o que importa na vida: se o pólo positivo ou negativo, se o peso ou a leveza de ser.

Enquanto não viro a última página dessa eterna busca, sinto a paz que provém da satisfação da alma. A doce alegria de viver com paixão várias vidas de uma só vez. O tipo de coisa que não se tem no MSN, na novela das oito ou no Faustão.

É claro que não aboli os meios tecnológicos de entretenimento da minha vida. Mas percebi que nenhuma engenhoca se compara com as palavras gravadas artisticamente no papel. O famoso humorista, Groucho Marx, de filmes clássicos como Diabo a Quatro, disse algo extremamente coerente com esta breve reflexão. “Eu acho a televisão muito educativa. Toda vez que alguém a liga, eu vou para a outra sala e leio um livro”. Boa escolha!

Por Vanessa Sezini

Nota: neste texto faço referência aos seguintes livros:

- A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera.
- A Metamorfose, Franz Kafka.
- Antologia Poética, Carlos Drummond de Andrade.
- A menina que roubava livros, Markus Zusak.
- Harry Potter e O Enigma do Príncipe. JK Rowling.
- Crepúsculo, Stephenie Meyer.
- Lua Nova, Stephenie Meyer.